Plano de Aula sobre Gravidez na adolescência para 9º Ano

O Plano de Aula sobre Gravidez na adolescência para 9º Ano abaixo apresenta dados do relatório da Organização Mundial da Saúde sobre a gravidez na adolescência a fim de alertar sobre essa questão.

De acordo com o registro, a cada mil adolescentes brasileiras, 68,4 engravidaram. O relatório indica possíveis consequências da gravidez para essas garotas e sugere maneiras de intervir no problema.

A reportagem pode fornecer uma oportunidade para trabalhar em parceria com professores de Biologia e de Humanas sobre a temática da sexualidade na adolescência e sobre métodos contraceptivos.

Além disso, pode propiciar um debate transversal sobre gênero e machismo, de modo a desfazer mitos e preconceitos, criando um discurso de acolhimento e respeito entre os estudantes.

A temática da sexualidade está inserida no currículo escolar e representa, muitas vezes, um desafio para os professores, que devem abordar o tema com naturalidade e livre de preconceitos. Dentro do tema sexualidade, um ponto merece destaque: a gravidez na adolescência.

Apesar de dados do IBGE indicarem que o número de adolescentes grávidas no Brasil está caindo, o índice ainda é alto e merece atenção. Diante dos impactos negativos de uma gestação mal planejada, é fundamental que professores conscientizem os alunos da responsabilidade da maternidade na adolescência, que, muitas vezes, adia sonhos e provoca graves problemas emocionais.

Muitas vezes, dizer o quanto a gravidez na adolescência traz implicações negativas aos diversos campos da vida de um casal não é suficiente. Uma boa maneira de levar o tema para a sala de aula é apresentando exemplos reais.

Trabalhe com seus alunos o tema gravidez na adolescência com esse plano de aula com 04 aulas e sugestão de atividades para 9º ano. Esse plano de aula é sugerido para os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental 2.

Além disso, se você também dá aulas para Ensino Médio e Enem, dê uma olhada no Curso Online Enem!

Plano de Aula sobre Gravidez na adolescência para 9º Ano

Plano de Aula sobre Gravidez na adolescência para 9º Ano

  • D15 – Estabelecer relações logico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.
  • D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.
  • D17 – Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.
  • D4 – Inferir uma informação implícita em um texto.

Proposta da atividade: 

  • Identificar o sentido expresso pela preposição “em” no artigo; inferir o significado de “empoderamento”; identificar o sentido expresso pela pontuação; inferir o motivo para que mães jovens parem de estudar.
  • Identificar o tema central da reportagem; identificar a estratégia utilizada pela autora para que o leitor compreenda a dimensão do problema da gravidez na adolescência; localizar no texto as consequências da gravidez precoce e ações para evitá-la.
  • Relacionar textos verbais a textos não verbais para conhecer mais informações sobre gravidez na adolescência no Brasil.
  • Antes da leitura da reportagem, em parceria com um professor de Biologia, proponha uma conversa introdutória sobre métodos contraceptivos e gravidez. Trabalhe com tópicos e linguagem apropriada para a realidade da sala, de modo que nenhum estudante se sinta exposto ou desconfortável.
  • Faça uma experiência com os alunos propondo que adaptem o texto para revelar informações sobre os pais dessas crianças. Como exemplo, faça isso na chamada e na manchete da reportagem; você pode apresentar as seguintes alternativas de chamada e subtítulo: “Pais jovens”, “Relatório mostra que 68,5 em cada mil casais formados por um homem ou adolescente e uma adolescente de 15 a 19 anos tiveram filhos entre 2010 e 2015”. Relacione isso à última frase da reportagem: a sugestão da OMS para que se incentive no mundo a igualdade entre gêneros.

Sugestões para o Momento de leitura

  • Durante a leitura da reportagem, destaque a estratégia utilizada para que o leitor se impressione com os dados. Realce os dados apresentados, comparando o índice brasileiro com aqueles da América Latina e do mundo.
  • Em seguida, chame a atenção para o fato de tanto no texto quanto nos dados estatísticos só estarem mencionadas informações sobre as meninas grávidas, o que associa de forma indireta a gravidez à responsabilidade da mulher.

TEXTO PARA LEITURA 01

SER MÃE JOVEM ENTREVISTA COM NATHALIA HÓSS LUTA QUE PARIU PLANO DE AULA 9 ANO - 1

SER MÃE JOVEM: ENTREVISTA COM NATHALIA HÓSS

Nós, da Capitolina, pensamos que seria importante conversar com uma mãe jovem que estuda e trabalha, sobre suas perspectivas de vivência e sua relação com o meio acadêmico/escolar. Conversamos, então, com a Nathalia Hóss, a moça por trás da página Luta que pariu. Ela tem 20 anos e é estudante de direito. Vem conferir!Capitolina (Gabriella):Como é ser mãe jovem? Que tipo de dificuldades você enfrentou? Acha que foram diferentes das que mulheres mais velhas encontram ao engravidar?

Nathalia: Ser mãe jovem é difícil. Você sai na rua com o bebê e as pessoas te abordam, perguntam sua idade sem razão nenhuma, querem dar conselhos sobre como cuidar do seu filho… Ninguém te acha capaz de cuidar de uma criança. Nós vivemos numa sociedade totalmente adultista, silenciamos nossos filhos. É supercomum ouvirmos que “devemos agir como mulher e não como garota”.

É claro que preciso levar em conta o fato de ser branca e classe média alta… Estou num relacionamento com o pai da minha filha, o que pra sociedade é um grande alívio, mas eu enfrento dificuldades, sim. Sair na rua e ser abordada o tempo inteiro beira ao assédio.

Acho que qualquer atitude que fuja do padrão imposto soa como ameaçador, e é por isso que mães jovens sofrem mais preconceito em relação às mães que engravidam na “idade certa”. Ninguém na rua pergunta a idade de uma mulher que aparente mais de 25 anos com um bebê no colo, né? As dificuldades que enfrentei foram mais durante a gravidez. As pessoas lançam olhares de pavor pra sua barriga, e foi por isso que me escondi por tanto tempo. Nós mulheres somos apedrejadas por termos vida sexual ativa. Agora imagine quando essa mulher tem menos de 20 anos com carinha de 15…

As coisas só melhoraram pra mim quando eu comecei a militar dentro do movimento de mães, quando eu comecei a estudar sobre violência obstétrica, quando eu comecei a perceber o quanto o próprio movimento feminista acaba deixando as mães de lado. A partir do momento que ser mãe se tornou um ato político pra mim, as coisas mudaram drasticamente.

C: E como sua relação com os estudos foi afetada e/ou mudou?

Nathalia: Tranquei a faculdade pra cuidar da minha filha, pois optei por amamentá-la em livre demanda. Minha vida profissional teve que parar durante seis meses por conta disso. Mas eu tive ESCOLHA, a maioria das mulheres não tem essa opção, não tem com quem deixar seus filhos… E a realidade é uma só: as mães jovens deixam de estudar.

C: Você sente que o ambiente das escolas/universidades está preparado para proporcionar condições para as mães? Questões estruturais, como creches, flexibilização de horários, poder levar a criança para a sala de aula, entre outras.

Nathalia: De jeito nenhum. As escolas/faculdades culpabilizam na cara dura a mãe que engravidou. A minha universidade não tem creche nem pros funcionários da instituição. É um elitismo escancarado. O cuidado com os nossos filhos é visto como algo da vida privada, e nunca da vida pública: a mãe tem que se virar, afinal de contas, “foi ela que fez”. Acontece que esse cuidado deveria envolver o Estado, deveria mobilizar a comunidade.

Tenho amigas que já foram hostilizadas por levarem seus bebês para a sala de aula. A nossa sociedade definitivamente não está preparada pra lidar com mães e bebês.

C: Como é sua relação com os estudos/trabalho? Como ser mãe jovem transforma a sua experiência acadêmica e/ou profissional? Você enfrenta preconceito por ser mãe e mais ainda, por ser mãe jovem?

Nathalia: Eu consegui transformar a minha experiência em luta, e tento levá-la pra todos os âmbitos da minha vida. Por mais doloroso que tenha sido, a chegada da minha filha foi transformadora. Foi a partir dessa vivência que descobri que quero trabalhar com direitos sexuais e reprodutivos da mulher (focando especialmente as mulheres jovens), que mergulhei no tema da violência obstétrica, que criei a minha página no Facebook com o intuito de informar outras mulheres.

C: Como você se sente em relação aos colegas de classe/trabalho? Como eles se colocam em relação à sua maternidade? E professores, empregadores?

Nathalia: A relação com as pessoas da minha idade mudou drasticamente depois que virei mãe, não tem jeito. Estou vivendo um momento da minha vida que as pessoas com quem eu convivia/convivo não estão, e eu entendo que seja difícil pra elas conseguir entender o que eu estou passando. É difícil e solitário, e é por isso que tento me apegar à rede de mulheres que também são mães jovens pra seguir em frente.

 C: O que você acha da ideia de que mãe que estuda/trabalha é guerreira?

Nathalia: Mães que estudam e trabalham são muito guerreiras. Mas são mais guerreiras ainda as mães jovens periféricas que cuidam dos filhos sozinhas e por isso não têm tempo nem de trabalhar nem de estudar.

Aliás, a ideia de que donas de casa não trabalham é ridícula. Cuidar dos filhos é um trabalho árduo, e toda mãe é mãe trabalhadora… a gente só não ganha remuneração pra isso.

C: Como surgiu sua ideia da página? Você já militava no movimento feminista de alguma forma?

Nathalia: Eu fiquei me perguntando por muito tempo como eu ia conseguir lidar com minha vida nova, como eu ia dar sentido pra tudo isso que aconteceu. Eu senti que precisava criar uma coisa minha, uma coisa que me deixasse realizada. Fiquei muito feliz de ter sido apresentada ao mundo da maternidade feminista, vi que eu tinha espaço pra militar e ser protagonista do movimento, sabe? Eu já era feminista antes de ter me tornado mãe, mas sentia uma falta de acolhimento enorme. A ideia da página veio disso: querer informar as mães jovens de alguma forma, dizer pra sociedade parar de tratar a gente feito criança, parar de tratar a gente como “mãezinha”. Nós somos muito fortes, e nosso lugar não é ali no cantinho, quietinhas, dóceis e fofas. A gente também quer ter voz, quer gritar pro mundo que acabou essa palhaçada de que maternidade não tem vez no feminismo.

C: Aliás, como você enxerga a relação entre feminismo e maternidade?

Nathalia: Feminismo e maternidade estão intimamente ligados. Aqui no Brasil, nossa luta começa desde o nascimento: a violência obstétrica é, na minha opinião, uma das violências mais veladas que existe… A grande maioria das pessoas condena o estupro, mas nem sequer conhece a violência obstétrica, tudo porque mulheres são violentadas todos os dias sob respaldo médico. A gente acha que parto é pra ser horrível e doloroso mesmo, que se o médico realizou alguma intervenção é porque estava querendo salvar nossas vidas e a vida dos nossos bebês. Mas não. A maioria dos obstetras brasileiros está desatualizada e aprende desde a faculdade que parto é evento médico. Nós, ativistas da humanização do parto, lutamos pra que ele seja protagonizado somente e pela mulher, queremos ser respeitadas nesse momento, queremos receber informações baseadas em evidências científicas desses profissionais.

Fora isso, posso dizer que nós mães não temos espaço no plano público, nem mesmo dentro da militância. As pessoas se mostram incomodadas quando a criança começa a chorar, falar, fazer barulho… E como a mãe se sente diante dessa situação?

É no mínimo contraditório perceber que ao mesmo tempo que se ataca a ilegalidade do aborto e a consequente maternidade compulsória na nossa sociedade, os movimentos “libertários” se mostram incomodados com a presença de um bebê barulhento numa atividade. Algumas mães não têm com quem deixar os filhos (a maioria delas porque o pai não é presente) e acabam deixando de comparecer nas reuniões dos coletivos por esse motivo. Ou seja, somos excluídas mais uma vez.

C: E a questão do aborto?

Nathalia: Sou totalmente a favor da legalização do aborto, até porque seria no mínimo egoísta da minha parte não levantar essa bandeira quando quem morre em aborto clandestino é a mulher pobre, negra e marginalizada. Eu teria tido condições de bancar uma clínica que me oferecesse um aborto seguro sem correr o risco de ser criminalizada.

A gente sabe que quando uma mulher engravida sem querer, a sociedade vai jogar toda a culpa nas costas dela, mesmo que o descuido tenha vindo do parceiro. Quando essa mulher não tem opção de escolha assegurada pelo Estado, ela se torna vítima da maternidade compulsória, que nada mais é que uma maternidade forçada.

O que acontece muitas vezes no Brasil é isso: a maternidade vira um castigo pra mulher. Castigo por ter vida sexual, castigo por gozar, castigo por não ter se prevenido, por ter esquecido da pílula (que falha!)… Castigo pela falta de cuidado do parceiro que não colocou a camisinha, castigo por querer ter parto vaginal, castigo por ter virado mãe cedo, castigo por ser mãe e querer ter voz.

C: O que você gostaria de dizer, para concluir?

Nathalia: Gostaria de fazer uma reflexão: até na faculdade dita “mais libertária de todas” as pessoas olham com cara de susto pra uma jovem grávida. As pessoas se espantaram quando eu disse que bancaria minha gravidez por escolha própria. As pessoas ficam surpreendidas quando uma mulher se sente dona do próprio corpo, seja pra abortar seja pra ter filho na “hora errada”.

Mas não posso deixar de dizer aqui que tive opção de escolha… Tenho condição financeira, tenho um companheiro presente e pude retomar meus estudos, e eu sei que essa não é a realidade da maioria.

Ademais, gostaria de dizer que frases como “um bebê cuidando de outro bebê”, “que carinha de menina”, “quantos anos você tem?” são adultistas e preconceituosas. Que um dia as mães jovens possam sair às ruas sem serem questionadas sobre sua vida privada.

Fonte: http://www.revistacapitolina.com.br/ser-mae-jovem-entrevista-com-nathalia-hoss-luta-que-pariu/

Aula 02 – Vídeo e Debate

Promova um debate sobre machismo na maternidade e sobre empoderamento feminino. Como disparador, os alunos deverão assistir ao vídeo abaixo intitulado “Machismo na maternidade”, do TEDx Talks.

Aula 03

TEXTO PARA LEITURA 02

Apoio, prevenção e empoderamento de mães adolescentes

Jovens entre 15 e 17 anos com pelo menos um filho abandonam mais os estudos.

Brasil tem gravidez na adolescência acima da média latino-americana, diz OMS. A cada mil adolescentes brasileiras entre 15 e 19 anos, 68,4 ficaram grávidas e tiveram seus bebês, diz relatório da Organização Mundial da Saúde. Além desses dados, 414.110 adolescentes entre 15 e 17 anos já tiveram pelo menos um filho. Dessas, 309.374 abandonaram os estudos. Essas jovens integram o grupo daqueles que estão fora da escola – cerca de 2,3 milhão de jovens entre 15 e 17 anos – e que desafiam o cumprimento das metas 1, 2 e 3 do Plano Nacional da Educação (PNE), que preveem a universalização da Educação para todas as crianças e jovens entre 4 e 17 anos até 2016.Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) e foram compilados pelo movimento Todos Pela Educação (TPE).

O combate à evasão escolar das jovens mães não é um problema simples e desafia a capacidade de articulação intersetorial sobre como lidar com a gravidez na adolescência e como assegurar que a maternidade não seja um fator de exclusão escolar. Em resposta a esses desafios, os especialistas apontam caminhos como apoio e prevenção, associados ao debate sobre o papel histórico da maternidade e das relações de gênero.

Acolhimento
Kelly Souza se tornou mãe aos 14 anos, ao que ela já se adianta: “sim, muito nova”. Hoje, aos 17 anos, a jovem se recorda de uma escola nada acolhedora. “As pessoas te olham de um jeito diferente e te tratam mal por você estar enjoada, fazem piadinhas”, lamenta.

A barriga cresce e sobre ela espreitam os olhares curiosos, por vezes maldosos. Embora as jovens não possam se esconder, é possível se acostumar, assegura Dayane Silva, de 16 anos, outra mãe adolescente.

Sentir-se julgada, com “todos te olhando” é um sentimento comum entre as adolescentes grávidas. Para Clóvis Boufleur, gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, ao lado da publicidade dos direitos legais, o apoio é requisito fundamental para a permanência das jovens na escola e começa com o combate à discriminação. “Não basta as pessoas conhecerem os direitos [que assegura licença maternidade de 4 meses]. É importante criar grupos de discussão, prevenção e debate para apoiar as mães adolescentes”, explica.

Apontar novas perspectivas para as jovens que, muitas vezes, já vêm de um contexto de vulnerabilidade social também é essencial. “Não é por que elas estão grávidas que o mundo acabou”, coloca Maria Helena Vilela, diretora executiva do Instituto Kaplan. “Elas precisam continuar na escola. E mais, não podem deixar de participar de trabalhos de prevenção porque não se sabe se esse será o único filho”, completa.

Haroldo da Gama Torres, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), faz a mesma observação. “Uma vez que a gravidez já aconteceu, a jovem precisa se sentir acolhida na escola. Sentindo-se segura, a chance de ela evadir é menor”, declara.

Ao lado da condenação arbitrária dirigida a essas jovens, a falta de infraestrutura é outro obstáculo à permanência escolar. “Se a estudante mãe quiser dar de mamar, terá de ir ao banheiro para ter o mínimo de privacidade”, explica Kelly.

É uma questão de bom senso, sentencia Boufleur, se a jovem mora longe e não tem com quem deixar o filho, a escola precisa prover espaço adequado. “Se toda estrutura ao redor da jovem não contribui, então ela acaba ficando 1 ou 2 anos fora da escola e a abandona de vez”.

Diante do desafio complexo que é estancar a evasão dessas jovens, não existe um responsável, mas muitos, afirma Elisabete Oliveira, mestre e doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora em sexualidade, diversidades sexuais e relações de gênero. “O apoio a essas meninas passa por um espaço onde elas possam amamentar e dar cuidado ao filho nos primeiros meses”, explica. “As escolas poderiam ofertar convênios intersetoriais. Uma saída seria fazer acordos com creches, por exemplo. Pois é complicado não ter quem cuidar da criança”.

Educação sexual dinâmica
Uma educação sexual aberta onde se discuta a prevenção da gravidez é um dos pilares para auxiliar o combate à evasão de adolescentes mães, mesmo que indiretamente, garantem os especialistas. Essa discussão é feita, mas de modo insuficiente, em tópicos e com o aluno recebendo a informação passivamente.

Os temas que abrangem a sexualidade e a gravidez na adolescência estão previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) –  no entanto, não são obrigatórios, o que explica a pulverização das iniciativas no assunto. O apoio que uma escola preparada para lidar com a sexualidade dos jovens poderia proporcionar às adolescentes grávidas acaba centrado, muitas vezes, em funcionários que se comovem com a situação das meninas, explica Maria Helena, que também é enfermeira obstetra, psicodramatista com especialização em Saúde Pública e em Sexualidade Humana.

Observando que o debate convencional sobre métodos contraceptivos não era tão eficaz, o Instituto Kaplan desenvolveu o Projeto Vale Sonhar. Desde 1996, o instituto atua em parceria com redes públicas de ensino levando educação sexual de forma dinâmica para sala de aula. “Nós auxiliamos indiretamente a redução da evasão diminuindo os casos de gravidez na adolescência”, explica Maria Helena.

As técnicas psicodramáticas garantem a apropriação do saber pelos alunos. São oficinas em grupo que apostam na simulação de momentos da vida para proporcionar ao jovem uma reflexão sobre responsabilidade e sexualidade.

O diferencial do projeto, conta Maria Helena, é a inserção dos jovens como protagonistas de suas decisões, capazes de discernir, e não como receptores passivos da informação. Eles trabalham com o “Jogo Vale Sonhar”, por meio do qual projetam e relatam projetos para cada etapa da vida.

Apesar dos bons resultados do projeto, que reduziu em cerca de 90% o número de jovens grávidas nas escolas piloto do Paraná na década de 90, o alcance é limitado. “Já conseguimos sensibilizar muitas redes de ensino, mas é algo pontual. Depende do interesse da escola ou da rede. Se esse conteúdo não é previsto no currículo, ele não se cristaliza”, comenta Maria Helena.

Professores preparados

A organização também capacita docentes para que se tornem multiplicadores de informações e agentes de prevenção à gravidez. Segundo a enfermeira, os professores nem sempre estão bem preparados para tratar do assunto, e a abordagem do tema sexualidade é sempre colocado num viés cientificista.

A professora de ciências na rede pública de ensino Juliana Mendes Ferreira confirma essa perspectiva. “Nós somos preparados para falar de DST, aparelho reprodutor, mas os jovens não querem saber só disso. Querem outros conteúdos, sobre prazer, por exemplo”, declara.

Maria Helena chama a atenção para a concentração excessiva do debate nas mãos dos educadores de ciências e biologia. “Esse professores lidam com o corpo de uma maneira mais científica, muitas vezes o professor de educação física, que lida com o corpo de outra maneira, ficaria mais à vontade para falar sobre sexo”, analisa.

Casa Ser: um espaço para falar sobre sexualidade

No número 485 da Avenida Doutor Guilherme de Abreu Sodré, em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, muitas mulheres cruzam as portas da recepção diariamente. O que as reúne é a busca por amparo e informação sobre sexualidade e direitos.

Trata-se da Casa Ser Dorinha – Centro de Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva. O espaço funciona de forma semelhante a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), mas foi criado para atender especialmente mulheres em situação de vulnerabilidade da região.

O centro realiza há 11 anos trabalhos de prevenção, informação sobre sexualidade, acompanhamento médico e promoção da saúde sexual. Jovens e adolescentes estão entre o público alvo da instituição. Rosemary Aparecida de Sousa, formada em enfermagem e gerente da Casa Ser, explica a diferença entre realizar trabalhos de prevenção na escola e em um espaço dedicado à saúde sexual. “Na escola ou mesmo no UBS do bairro, o jovem se sente inibido e, muitas vezes, julgado pelas pessoas conhecidas. A Casa Ser tem uma equipe preparada para lidar com sexualidade e não expor ninguém”.

A instituição promove palestras em escolas públicas e também na Fundação Casa, no entanto, é um trabalho esporádico. Tal qual o realizado pelo Instituto Kaplan, depende do interesse daqueles que o requerem. Não há uma política pública que considere o a realização de convênios com instituições desse tipo. “Isso seria ótimo, porque fazemos um trabalho diferenciado, mas não existe nada nessa linha. É preciso ligar continuamente para as escolas oferecendo nosso trabalho”.

Rosemary conta que quando a equipe sai para oferecer palestras nas escolas públicas eles orientam que a escola encaminhe estudantes que precisem de algum auxílio, mas raras vezes a escola o faz. Os palestrantes sequer são remunerados: “Fazemos palestras onde nos chamarem, mas com dinheiro do nosso bolso, é por amor mesmo”, afirma a enfermeira.

O que torna o ambiente da Casa Ser especial, na opinião de Elisabete Oliveira, é a liberdade para se questionar o que quiser. A educadora obteve o título de mestre com uma tese baseada nas adolescentes grávidas do centro e acompanhou trabalhos de educação sexual em escolas e na própria Casa Ser, e ela garante que ali os jovens se sentem mais à vontade. “Na Casa Ser o jovem não é julgado. Se quiser, ele conta com um atendimento individualizado e privado”, explica.

Empoderar

Camisinha, métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis (DST’s). Ao menos em um momento da trajetória escolar, todo aluno de escola pública tem contato com esses temas, esclarece Elisabete. Entretanto, para a educadora e pesquisadora em sexualidade, mais do que oferecer informações tópicas sobre prevenção, o que falta a essas instituições de ensino é um debate crítico sobre o que é ser mãe. “Não quero dizer sobre as dificuldades de se ter um filho, mas sim sobre o significado histórico da maternidade, algo que não vemos acontecer”, aponta. Para ela, desconstruir alguns mitos da maternidade e de gênero deveria fazer parte da Educação e poderia incidir sobre as taxas de evasão escolar.

“É preciso considerar que a maioria das jovens conhece os métodos contraceptivos, no entanto, a gravidez continua acontecendo”, afirma a pesquisadora. “Para muitas delas, ser mãe, naquele contexto, é o passo que dará sentido à vida. Elas pensam: ‘não tenho uma Educação de qualidade, não tenho perspectiva de ir para uma universidade, não tenho emprego. A única coisa que vai me colocar na vida adulta é a maternidade’”, ilustra.

A educadora também defende que é preciso ampliar para as jovens mães a matriz de referência que elas têm sobre a figura da mulher. Muitas vezes, o modelo limita-se às avós, mães e irmãs mais velhas que também foram mães na adolescência. “A referência de gênero, de uma mulher bem sucedida altera as perspectivas das jovens. A moça pensa: ‘pôxa, eu posso chegar lá’”, explica.

Elisabete propõe uma ampliação do debate sexual, abarcando pautas como relações de gênero, discursos historicamente construídos sobre as mulheres, a sexualidade e a reprodução para que as adolescentes possam enxergar na Educação oportunidades. Assim como os demais especialistas, para ela, o assunto requer respostas complexas dos gestores públicos, uma articulação entre pastas. “Não é só na área de saúde, não é só na área de Educação, é na área de oportunidades, como a cultura, por exemplo. Porque quando as oportunidades surgem, aquela ideia de ter filho pode esperar”, pondera.

* Texto de Pricilla Honorato com colaboração de Leticia Larieira (in: http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/33597/apoio-prevencao-e-empoderamento-de-maes-adolescentes/)

Proposta da atividade: Após a leitura do texto, peça aos alunos para elaborar um relatório ou uma produção textual sobre possíveis atividades que poderiam ser desenvolvidas em um curso sobre planejamento reprodutivo.

Aula 04 – Documentário “Meninas”

Para finalização dessa série de aulas sobre o tema Gravidez na adolescência, sugerimos que os alunos assistam o documentário “Meninas” .

O documentário Meninas, produzido e dirigido por Sandra Werneck, foi filmado entre novembro de 2004 e agosto de 2005, no Rio de Janeiro, e apresenta a história de quatro meninas: Evelin (13 anos), Luana (15 anos), Edilene (14 anos) e Joice (15 anos). Apesar de serem histórias distintas, as meninas apresentam em comum o fato de possuírem baixa renda e terem seus sonhos anulados pela chegada de um filho.

Evelin, a mais nova de todas, está grávida de seu namorado de 22 anos, que acabou de abandonar o tráfico de drogas na favela da Rocinha. Luana mora no Morro dos Macacos com a mãe e quatro irmãs e diz que sua gravidez foi planejada. Edilene e Joice apresentam em comum o fato de estarem grávidas do mesmo homem, um rapaz de 21 anos que trabalha como ajudante de marceneiro. Durante o desenrolar do documentário, é possível observar como a gestação mudou os planos dessas garotas e como afetou suas famílias.

O uso do documentário “Meninas” para abordar a gravidez na adolescência é uma forma de trazer a realidade para a sala de aula e mostrar como a prática sexual desprotegida pode gerar consequências graves. É importante destacar o fato de que as meninas do documentário, assim como a maioria dos adolescentes, possuem informação a respeito dos métodos contraceptivos, mas não conseguem avaliar de maneira clara como a falta de prevenção pode afetar diretamente as suas vidas.

Ficha Técnica: 

  • Título – Meninas
  • Ano – 2005
  • Duração – 71 minutos
  • Produção e Direção – Sandra Werneck
  • Diretora Assistente – Gisela Camara
  • Roteiro – Bebeto Abrantes
  • Produção Executiva – Luis Antonio Silveira

Proposta de Atividade: Uma análise do filme e do assunto tratado pela ótica dos adolescentes.

Avaliação

Avalie a participação dos alunos e o interesse pelo tema tratado.

** Fonte: Adaptado do Site Gutennews 

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